Mateus Lopes

Criando e experimentando na arte da vida.

Filosofando

A beleza está nos olhos de quem vê

Este vídeo, é uma campanha realizada pela Dove, chamada “Real Beauty Sketches”, traduzido “Retratos da Real Beleza”, com o objetivo de trabalhar a autoestima e a autoconfiança de mulheres em todo o mundo. A estratégia da campanha foi a de conduzir um experimento social, bastante convincente, para provar às mulheres que elas são mais bonitas do que pensam ser, e que elas próprias próprias são suas piores críticas quanto a própria beleza. Diz o estudo que apenas 4% das mulheres em todo o mundo consideram a si mesmas bonitas.

Para realizar o objetivo proposto, foi contratado um desenhista profissional, que trabalhou durante anos no departamento de polícia, desenhando retrato falado. Esse profissional foi então colocado numa sala, onde cada uma das participantes da pesquisa primeiro, descreveram a si mesmas enquanto o desenhista as retratava, sem contato visual, e depois, foi a vez das outras convidadas descreverem suas colegas, as quais haviam sido apresentadas anteriormente, para que o profissional pudesse então desenhar um novo retrato com base na descrição de outra pessoa. Após o término, os desenhos foram expostos de forma que cada participante, pôde, então, comparar a imagem da descrição que fez de si mesma, com a da descrição que outra pessoa fez dela.

Em poucas palavras: Como você se vê, e como os outros te veem.

Considero que o tema desta campanha, que prefiro chamar de estudo, é da maior relevância e atualidade, trazendo em si uma série de reflexões importantes, não somente para mulheres, mas para qualquer ser humano independente de gênero. Pois cada ser em si é portador de amor próprio, auto-estima, vaidade, autoconfiança, ou seus pólos negativos como falta de amor próprio, baixa autoestima, vaidade excessiva ou insegurança, sendo que a auto-opinião negativa, infelizmente, corresponde à maioria esmagadora de 96% das mulheres em todo o mundo, de acordo com a pesquisa.

Penso que os fatores sentimentais ou emocionais, relacionados ao problema da autoaceitação, teem sua origem em duas forças principais:

1) Os impulsos naturais do indivíduo, ou a individualidade propriamente dita
2) Os fatores familiares, sociais, culturais e ambientais vividos pelo indivíduo

No fator individualidade, cada ser é único, e desde a infância podemos observar maior ou menor grau de maturidade em cada criança, em relação aos mais diversos assuntos. O que para algumas é motivo de tristeza, para outra uma mesma situação nada pesa e a criança é capaz de transmutar o negativo em positivo com grande simplicidade e desapego. No entanto, de forma geral, as crianças são mais puras e menos viciadas nos padrões de aceitação da sociedade, pois ainda não foram expostas a carga pesada dos valores de beleza e status, ensinados e quase impostos pela mídia de massa. Eu gostaria muito de ver esse mesmo estudo, sendo realizado com crianças, para saber qual seria a taxa de autoaceitação delas. Imagino que, dependendo da idade, veríamos um nível inverso de autoaceitação. Talvez 96% das crianças se considerem bonitas e apenas 4% se considere feia. Quem sabe?

Se eu estiver certo, então essa taxa está sofrendo uma inversão ao longo da vida. Ou seja, conforme crescemos, vamos perdendo nosso amor próprio, vamos perdendo a naturalidade e autoaceitação pura da infância, e passamos a tentar corresponder aos padrões do segundo fator que mencionei acima. Família, sociedade, cultura e ambiente são os componentes que nos formam e nos educam, ou talvez nos deseducam na sociedade atual.

A família é, ou deveria ser, a base principal na formação do caráter e dos valores do indivíduo. Mas para que a família eduque, é preciso que seja também educada. E o que vemos da instituição familiar no mundo de hoje? Pais que educam pela violência, que nunca tem tempo para os filhos, que criticam, deprimem e bloqueiam as manifestações expressivas ou criativas de seus filhos, que nunca utilizam o elogio ou o incentivo para maior autoaceitação no processo natural de desenvolvimento do caráter.

E a criança cresce, e, num processo natural, começa sua integração com a sociedade e a com a cultura do ambiente em que vive. Eis então o grande palco, onde o espetáculo da vida ganha corpo e segue em seu processo de desenvolvimento do indivíduo. E quais os valores que são ensinados pela nossa sociedade? Os valores da estética perfeita, da imagem acima do conteúdo, do que os outros pensam de você ao invés do que você pensa sobre si mesmo. São os valores da competição, da comparação, do quem tem mais acima do quem tem menos, do parecer ao invés do ser. Valores planejados, formulados e divulgados através das artes e das mídias. São novelas, filmes, músicas, livros, revistas, noticiários de televisão, propagandas, enfim, um bombardeio de mensagens de negativismo constantemente trabalhando para nos transformar em seres amedrontados, inertes, deprimidos e credores de total incapacidade de fazermos algum diferença, ou de mudarmos as coisas.

Sim, vivemos numa sociedade miserável, mas não de recursos materiais, pois esses são abundantes, apesar de mal distribuídos ou inacessíveis pelo próprio egoísmo do homem – afinal, toda a comida que é jogada fora, todos os dias, poderia matar a fome do mundo – mas somos miseráveis de amor, de carinho, de autoestima, de autoconfiança e confiança no próximo, somos miseráveis pelo egoísmo dos que estão no poder, pela corrupção e pela pressão dos padrões de aceitação, baseados na beleza, no status e no poder financeiro.

Infelizmente, a família e a sociedade, estão falhando em formar pessoas capazes de expressar o seu amor por si mesmas e pelo próximo em toda a sua plenitude!

Se devemos amar uns aos outros, como a si mesmos. Então, em primeiro lugar, creio que devemos aprender o amor próprio, para, então, compartilhar esse amor com quem quer que cruze o nosso caminho.

Parabéns aos profissionais envolvidos nesta campanha, por esta pesquisa tão interessante, e pela excelente oportunidade de reflexão.

Mateus Lopes

Sou engenheiro de software e desenvolvedor web e cloud, sou um apaixonado por tecnologia. Sou músico e ator por puro amor. Sou filósofo por filosofar, e espiritualista pela razão e dedução lógica das leis naturais. Sou meditador, praticante de yoga, estudante da vida e do amor. Sou um pouco de tudo o que já estudei e vivi, mas sou também todo o universo do potencial que há em mim!

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